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É hora da escola


Caetano,

Ontem foi o seu primeiro dia na escolinha. Quando chegamos, seus coleguinhas estavam sentados em uma roda de música. Todos muito serenos e atentos às tias, que cantavam palavras afinadas, acompanhadas de gestos, palmas e sorrisos largos.


Nessa hora meus olhos se encheram de lágrimas. Porque pela primeira vez você estaria longe da sua família. Mas também porque você estaria em um ambiente tão doce e acolhedor.


Não foram lágrimas de tristeza. Foram lágrimas de emoção.


E foi apenas por uma hora e meia. Você ficou muito bem.


A mamãe aproveitou o tempo livre, grande novidade dos últimos 6 meses, para ir buscar sua carteira de identidade.


Fui a pé.


Há quanto tempo não fazia isso? Andar a pé pela cidade! Observar seu movimento, pisar suas ruas, olhar de perto para seus habitantes e edifícios. Senti-la?

Há muito mais do que 6 meses. Há anos.


Há anos não disponho, em um dia comercial, de apenas uma hora e meia para andar livre por aí, como fazia na minha época de estudante, quando a melhor forma de ir do Luxemburgo para o Santo Agostinho era a pé. Ou em Lisboa, onde simplesmente andar sem rumo pela cidade era uma das partes mais prazerosas da minha rotina.


Nesse momento a aflição tomou conta de mim.


Não é estar longe de você que me assusta. A separação faz parte. Você está sendo criado para o mundo.


Mas me assusta saber que, em breve, perderei novamente o controle do meu tempo. Que você passará mais horas na escola que brincando na sua casa. Que cada minuto terá que ser milimetricamente calculado para administrar deslocamentos, trabalho, almoço, academia, cuidados pessoais e o mais importante de tudo: você!


Ainda não sei como irei lidar com isso. Penso, penso e penso, mas a matemática do relógio é exata e cruel. Provavelmente iremos simplesmente "deixar levar", como de costume. E, de repente, em raros 5 minutos de lucidez, nos daremos conta de que é natal. E isso sim me provoca lágrimas de tristeza.


Mas, quem sabe, não acharemos uma solução para que consigamos sentir efetivamente cada dia de nossas vidas?


E aí o natal chegará sempre no tempo certo.


Sobre a escolinha?


"Mr. Happy" não poderia estar melhor.


Feliz e seguro, em uma piscina de bolinhas.

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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