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Só um dia

Acordei com a notícia de que a babá não viria. Estou desde então tentando reencontrar meu centro. Esse é o tipo de notícia que tira do eixo uma mãe que trabalha fora. Que dirá em tempos de pandemia, em que não se pode contar nem meio horário com a escola.


Mantenho o que estava programado para o início da manhã. Acordo mais cedo do que a casa para poder manter a rotina de bem-estar. É o que a Refaela Carvalho brilhantemente nomeou de “o oásis das cinco da manhã”. Medito. A mente está mais agitada que o normal, mas com certeza seria pior sem essa pausa. Chegam e vão, sem parar, pensamentos sobre como organizar o dia, sobre como controlar o incontrolável. Perda de energia. Perda de tempo. Foco no presente. Calma. Atenção plena.


Leitura. A mente insiste em divagar. Mas a inspiração vem. Sempre vale a pena tentar. Insitir.


Exercício diário de gratidão. Sou grata por ter ajuda todos os dias. E agradeço por isso todos dos dias. Inclusive hoje. É urgente ter isso em mente. Compreender meus privilégios.


Ajuda? É preciso pedir. Mensagem para a mãe e pra quem mais a gente pensar. Será que a faxineira que nos ajuda pode vir hoje? Pai, você que mora logo aqui embaixo, pode dar uma força? É preciso pedir. E depois aceitar.


Resiliência. É só um dia. Foco: sobreviver a ele sem transforma-lo em um inferno. É só um dia.


Vai ter muita TV? O dia todo de TV? É só um dia.


Não serei tão produtiva? É só um dia.


A alimentação não será lá essas coisas? É só um dia.


A casa ficará uma zona? É só um dia?.


Todo mundo vai ceder, abrir mão, se descontrolar junto com você? É só um dia.


Será confuso? Sim, muito confuso. Mas é só um dia.


Que ao final dele, possa ter vencido a gentileza, a sutiliza, o amor. Porque isso sim tem que estar sempre presente. Mesmo nesse dia. O resto a gente dá um jeito. Sempre tem jeito.


Enquanto escrevo esse texto, termino meu café com biscoito natalino. Detalhes que transformam qualquer furacão em brisa gostosa. É só mais um dia em que terei a chance de estar ainda mais próxima dos meus filhos.


Que privilégio!




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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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