Será que é tempo que nos falta?
“Não dispomos de pouco tempo, mas desperdiçamos muitos”
Sêneca
O tempo é uma constante na minha escrita desde que comecei a colocar para fora meus pensamentos. Não preciso nem dizer que, bem antes disso, ele já era um assunto que não saia da minha cabeça. Muito antes, aliás, o tema já dominava as conversas de elevador:
- Ei. Tudo bem? Quanto tempo!
- Tudo e você?! Nossa, muito tempo mesmo. Como voa, né?!
- Tudo ótimo por aqui também. Na correria.
- Nem fala. Tempo para nada.
- Chegou meu andar. Vamos marcar de encontrar.
- Qualquer dia. Vamos achar um tempo.
E assim passam dias, meses e anos até que se esbarrem novamente.
Será que é tempo que falta?
Eu, que adoro o tema, outro dia fiz um curso sobre como gerir essa variável que é uma das moedas mais raras e preciosas da vida moderna. Foram duas horas de aula, mas eu resumiria tudo em uma única pergunta:
O que você faria se tivesse duas horas a mais no seu dia?
Isso mesmo. Suas preces foram atendidas. Você achou a lâmpada mágica e ganhou o que sempre pediu ao cosmos. Um dia de 26 horas, todas suas, e você decide: o que fazer com elas?
Duas não são suficientes? Não importa. Podem ser mais. À sua escolha. 30 horas? 40? 48?
Bom, ainda que o seu dia tenha 80 horas, sinto dizer: seu tempo seguirá limitado. As possibilidades do mundo, por sua vez, seguirão infinitas. Ou seja, você continuará precisando escolher.
E o que você escolhe fazer com o seu tempo?
Se você tivesse duas horas a mais no seu dia, o que você encaixaria? Horas a mais com seus filhos? Estudo? Um filme? Academia? Ou mais uma reunião?
Agora para e pensa. Você já tem, não duas, mas vinte e quatro horas disponíveis.
E, surpresa, você pode fazer com elas o que quiser.
É claro que lembrar dessa realidade tão óbvia não torna gerir o tempo uma tarefa fácil. É difícil mesmo. Mas às vezes nos perdemos tanto nesse ritmo acelerado, que é preciso parar até para lembrar do óbvio.
Gerir o tempo é difícil porque envolve escolhas, mas seja ele mais curto ou mais longo, sempre envolverá. E escolhas, por sua vez, envolvem priorização. Escolher é necessariamente abrir mão. Aquele velho clichê: todo sim traz com ele um não. E, infelizmente, não será possível fazer tudo. Será sempre necessário deixar alguma coisa de lado e, consciente disso, aceitar essa perda.
Para efetivamente gerir e ser dono do próprio tempo é preciso sair do piloto automático. Porque se não o mundo, acelerado como ele só, passa por cima mesmo, sem dó nem piedade. É preciso parar, se conhecer, entender o que te nutre, estabelecer as prioridades. E aí as 24 horas seguirão parecendo pouco, mas estarão preenchidas por aquilo que mais importa. E nada como uma escolha consciente para trazer a tranquilidade que a gente precisa para lidar com esse mundo apressado.
Andar a passos lentos enquanto lá fora a vida corre pode ser um ato de rebeldia. Mas é também um alívio danado saber que quem manda na sua vida, afinal, é você.

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