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Criatividade



Por muitos anos vivi um dilema sobre a minha escrita. Eu achava que ela deveria servir a um propósito. E na nossa sociedade um propósito não parece fazer muito sentido se não for produtivo. E algo que não gere retorno financeiro não parece ser muito produtivo, certo?


Diante disso, neguei diversos conselhos para investir na escrita. Eu ouvia e pensava:


Como posso monetizar isso?

Não é perda de tempo?

Deixa para lá, não vai dar em nada.


Deixei.


E alguma coisa continuava faltando, mesmo que tudo parecesse estar no lugar.


Veio a pandemia. Fui obrigada a desacelerar. Menos distrações, mais pensamentos. Junto com o mundo, passei a questionar um monte de coisas. Como no hino (anto)lógico do Supertramp, à medida que as perguntas foram ficando profundas, as noites se tornaram incômodas: afinal, quem sou eu?


Para voltar a escrever, precisei, me (re)conhecer.


E é aí que entra a Grande Magia, esse livro sobre criatividade escrito pela Liz Gilbert, com quem aprendi algo valioso: a criatividade é um propósito em si.


Para algumas pessoas criar é tão essencial quanto respirar. E para satisfazer essa necessidade basta... Criar! Quem tem essa necessidade criativa precisa explorá-la para não sufocar e qualquer resultado é apenas consequência. Uma consequência bem-vinda, é claro, mas não o que motiva.


Ler esse livro libertou minha escrita. Desde então, escrevo para mim. Parei de me importar com likes. Se alguém gosta, fico feliz, porque adoro saber que minha inspiração está reverberando por aí. Se ninguém gosta, está tudo bem. Meu texto no mundo significa mais um respiro em meio a essa loucura que é produzir e performar sem parar. E que liberdade gostosa é fazer coisas aparentemente inúteis, livre da pressão por produtividade e desempenho que nos acompanha desde a infância, em um mundo onde descansar virou perda de tempo, em que é preciso dar utilidade a cada segundo de ócio, porque tempo é dinheiro e o entusiasmo tem que dar lucro.


Criatividade é uma das habilidades mais exaltadas hoje em dia, mas só tem um jeito de tornar-se criativo: exercitando a criatividade. Às vezes daí nasce uma pequena ou grande inovação. Na maioria das vezes não, e aí, teremos, ao menos, respirado.

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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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