Porque um livro infantil
De acordo com o psicólogo Jerome Bruner, referência em psicologia cognitiva, crianças aprendem através de histórias, ou seja, quando são envolvidas por uma narrativa.
Eu presenciei isso como um verdadeiro milagre no desfralde do Caetano.
Desde que ele nasceu, sempre comprei muitos livros infantis. Durante a gravidez, líamos histórias para a barriga, pois eu havia visto em algum lugar que isso fazia bem para o desenvolvimento do bebê. Além disso, quando concebemos um bebê, a gente logo pensa no ser grandioso em que queremos transformá-lo. Ele lá, uma sementinha invisível na barriga, e a gente aqui, pensando em como torná-lo o próximo Steve Jobs. Ora, nesse caminho para o sucesso, não há quem discorde: os livros sempre estarão presentes.
Fato é que Caetano sempre se interessou pelos livros. Sempre ouviu encantado e concentrado as histórias que vinham daqueles papeis coloridos. E isso não é mérito meu. Tá certo que fiz minha parte ao colocá-lo em contato com os livros (desde a barriga). Mas isso é só uma parte da história, o que vim a saber quando Augusto nasceu e tornou uma luta de concentração/distração a hora da leitura.
Deve ser por tudo isso que comecei a formar nossa pequena biblioteca, com direito a clube de assinatura de livros mensal.
Até o livro do cocô.
Sim, o famoso livro do cocô, que hoje é o preferido do Augusto, teve um papel fundamental no desfralde do Caetano. Mais precisamente, foi um milagre. Aos três anos e meio, totalmente desfraldado para o xixi, ele morria de medo da privada. Pesquisei rapidamente no Google e lá estava a dica: o livro Cocô no Trono.
Foram duas leituras em um único dia e adeus fralda para todo o sempre.
Juro que fiquei impressionada! E desde então mudei minha relação com os livros infantis. Eles passaram a ser a minha forma de conversar com meus filhos sobre os assuntos mais importante, mais sérios e delicados. Eles passaram a ser meus grandes aliados.
Foi através dos livros que ensinei para o Caetano sobre violência sexual, machismo, emoções e muitas coisas mais. E isso me deixou completamente encantada.
Até que no fim de 2020, no meio de uma interminável pandemia, fiz um curso maravilhoso chamado Cri Cri Cri (Criando Crianças Criativas), do Murilo Gun. Esse curso despertou em mim tanta coisa, mas tanta coisa, que isso é assunto para outro texto. Mas, mais do que tudo, ele desencadeou em mim uma enorme vontade de falar com as crianças. Eu queria gritar para cada uma delas o quanto elas eram incríveis, o quanto o futuro dependia delas e o quanto a educação tradicional pode ser cruel com suas habilidades sócio emocionais.
Mas eu não tinha a menor ideia de como fazer isso, afinal eu era uma advogada e não uma pedagoga. Por isso me recolhi na tentativa de mudar o mundo das duas crianças que habitam a minha casa e sosseguei o facho.
Paralelamente eu já escrevia. Escrevia há bastante tempo, inclusive. Mas nunca passou pela minha cabeça unir tudo isso que eu falei aí em cima. Eram duas pontas soltas de um laço que eu não fazia ideia de como dar. Eu acreditava nos livros como ferramenta de aprendizagem, eu queria falar com as crianças e eu escrevia. Parece óbvio, não é mesmo?
Não para mim.
Demoraram meses para eu entender que eu tinha tudo o que eu precisava para conversar com qualquer criança além das paredes da minha casa. Sem nenhuma pretensão de mudar o mundo, é claro, mas muito feliz por poder levar um pouquinho de aprendizado lúdico para outras famílias.
E foi assim que nasceu o meu primeiro livro infantil (e junto com ele uma lista de ideias para o futuro). Nasceu como uma história que fiz para o meu próprio filho, para resolver um problema real da nossa casa, e que eu pensei que, talvez, por que não, poderia ajudar outras famílias que precisassem disso também.
E aquilo que estava óbvio, porém encoberto, se descortinou como uma oportunidade incrível de unir meu talento, minha realização pessoal e um propósito.
Por isso eu não poderia estar mais feliz.
E, afinal, por que não um livro infantil?
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