Nosso comercial de margarina
Caetano,
Nosso comercial de margarina.
Eu gosto mesmo é de manteiga, só que ela é derivada do leite. Mas, por esse sorriso, vale a pena trocar.
A cara de cansado do papai não engana: ele gostaria de ter dormido até mais tarde. Mas, por esse sorriso, vale a pena trocar.
Algumas pessoas podem questionar que em meus textos falta um pouco da realidade difícil de ter um bebê em casa. É verdade. Prefiro dividir com você a parte boa. Mas todos que me questionam sabem o quanto sou sincera. Cansa demais. Gostaria de dizer para o ministro, aliás, que nunca trabalhei tanto na vida. Dificilmente ele iria acreditar.
Minhas olheiras estão enormes. Sinto saudades de dormir a noite toda, comer e fazer xixi quando dá vontade. Tomar um banho longo então... doce sonho. A hora do choro é um tanto desesperadora. E você chora! Bebês choram. E às vezes dói mais na gente do que em vocês.
É uma mistura avassaladora de sentimentos. Nosso corpo já não é mais o mesmo. Nosso tempo já não é mais nosso. O dia passa correndo. É verdade: não sobra tempo para absolutamente nada. Acredite sempre que uma mãe disser isso. Eu achava que era exagero. Paguei língua. Aliás, isso é coisa que a gente faz toda hora. E quando o dia acaba, vem a noite, apenas para que amanhã tudo recomece exatamente igual. Tipo a música do Chico.
Porque tem gente nova mandando aqui. Pequenininho, mas exigente.
E as preocupações? Será que estamos fazendo tudo certo, será que tá tudo bem?
E aí bate aquela angústia e, com ela, aquela saudade da nossa antiga vida.
E não há mal nenhum nisso. A gente também fraqueja.
Mas aí a gente vê esse sorriso. E, por ele, valeu a pena trocar de vida.