Conversas no caminho
Caetano voltou para a natação.
O trajeto de 10 minutos é uma ótima oportunidade para conversar.
Em um dos sinais do caminho, sempre tem uma moça vendendo paçoca. Ele sempre pede, mas nunca compro. Alego que não tenho dinheiro, o que é verdade, mas ainda que tivesse talvez não comprasse.
Da última vez em que passamos por ali, vi a moça correndo para recolher os saquinhos no retrovisor e pensei que gostaria de ajudá-la comprando um doce. De quebra, faria um agrado fora de hora para o filhote, afinal, exceções são bem-vindas dentro de uma vida equilibrada.
Hoje me lembrei de levar o dinheiro e lá estava a moça vendendo paçoca no sinal. Ela não tem jornada controlada, mas após alguns meses fazendo o trajeto posso afirmar que ela bate ponto regular e pontualmente, não porque lhe é exigido, mas porque precisa.
Comprei a paçoca e entreguei para o Caetano:
- Finalmente conseguimos comprar a paçoca. Você fica feliz e ainda ajudamos a moça.
- Por que você disse que ajudou a moça, mamãe?
Tapa na cara 1.
Não é uma ajuda, eu sei. Ela presta um serviço ali. Vende um produto, eu adquiro. Nada além de uma relação comercial normal. Mas fato é que se ela não fosse uma vendedora de sinal eu nunca compraria a tal paçoca em plena quinta-feira de manhã. Eu realmente queria ajudá-la a melhorar o seu negócio, a sua renda. Então respondo:
- Ao comprar, estamos ajudando-a a ganhar um pouco mais de dinheiro, pois o trabalho dela é um trabalho difícil.
- Entendi mamãe! Ela precisa vender paçoca porque não tem computador em casa para ganhar dinheiro trabalhando com ele.
Tapa na cara 2.
4 anos e já entende perfeitamente bem a falácia da meritocracia.
- Sim, meu filho. Mais ou menos assim.
- Mas que bom que agora ela já tem 2 reais. Se semana que vem ela ganhar mais 2, vai ficar com 4. 4 é muito mamãe?
E assim seguimos. Com inocência e sabedoria. Que ambas não se percam pelo caminho.
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