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Dentista



Eu odeio ir ao dentista. Nada pessoal. Se bem que é pessoal sim. É graças a um dentista que passei a odiar a ideia de ir em qualquer outro. Trauma de infância. Um senhor decidiu dedicar a sua vida a cuidar de bocas de crianças. Ele provavelmente amava bocas. Mas odiava crianças. Pelo menos era o que parecia: "se doer levanta o braço". Se eu tentava fazer isso, ele prensava meu braço sobre a cadeira. Não era permitido sentir dor. Resultado: 37 anos com medo de dentista. Por que isso agora?


Porque ainda estou tentando absorver a saída da odonropediatra na quarta, às 20:30, depois de um dia exaustivo e duas limpezas de dente completas, com direito à motorzinhos de som aterrorizante e ferrinhos pontudos de todos os tipos e formas: "Mamãe, adoro ir no dentista!"


Oi? Eu até esperava uma certa indiferença. Um tanto faz. Mas adorar??!!!


E imediatamente me veio a reflexão. O que separa um trauma de infância de uma percepção de diversão ao ir no dentista?


Essa é fácil de responder. Dra. Aline, a dentista escolhida a dedo para cuidar dos meus filhos, com sua voz doce e palavras acolhedoras, recebe seus pequenos pacientes vestida de mulher maravilha, cheia de pelúcias dentuças e escovas de dente gigantes. Começa a consulta fazendo uma limpeza de dentes completa no raposão e na raposinha, ambos trazidos como acompanhantes para um tratamento gratuito. Envolvidas, as crianças se entregam. Sem medo. Sem dor. Sem resistência. Não é necessário segurar os braços, pois eles não se levantam, a não ser para mostrar uma tartaruga que acabou de passar na tela que reproduz o fundo do mar acima da cadeira por mim tão temida.


Dra. Aline, para ser uma boa dentista, sabe que não precisa entender apenas de bocas. Ela precisa entender dos sorrisos. Não apenas da estética deles. Mas daquilo que os invoca: carinho, confiança e emoções positivas.


Para conquistar uma criança, mesmo em um ambiente que tem tudo para ser assustador, basta respeitá-la. Respeitar seu medo, sua desconfiança, mas também o seu mundo lúdico. Para conquistar uma criança, basta entrar por 10 minutos em seu universo. E por que, afinal, é tão difícil para nós, adultos, fazermos isso? E não estou mais falando só de consultórios de dentista. Por que é tão difícil nos rendermos ao lúdico? É a pressão por produtividade? Medo do ridículo? Necessidade de manter a capa endurecida da maturidade? Ou apenas pressa em um mundo tão acelerado?


Dez minutos tratando os dentes da raposa de pelúcia. Uma vida inteira indo ao dentista sem traumas e até, porque não, com prazer.

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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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