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Sim, vai passar

Nasce uma mãe, nasce um mantra: vai passar! E em meio a esse delicioso caos que é ser mãe de dois, me lembro de como sempre odiei essa frase, desde os primórdios do primeiro puerpério, três anos e meio atrás. Ora, tudo na vida passa! Vida é impermanência. Entender isso, aliás, foi uma das coisas mais valiosas que aprendi na minha trajetória. Não foi na escola, nem na faculdade, nem nas lições de educação que tive dentro de casa. Precisei ir do outro lado do mundo, lá em Ayutthaya, para ouvir de um guia baixinho e de olhos puxados duas frases absolutamente transformadoras: “Na vida tudo vem e vai. Vem e vai.” Quanta sabedoria em tão poucas e simples palavras. Mas aqui no Ocidente, ninguém quer saber disso. Ninguém quer falar sobre isso. Menos quando nasce um bebê. Quando nasce um bebê, o mantra budista é repetido insistentemente a cada queixa de uma mãe exausta: vai passar, vai passar, vai passar!!! E passa! O que todo mundo parece esquecer, é que junto com as coisas ruins, os perrengues e a exaustão, passam também todas as coisas boas. E quando penso que em muito pouco tempo nunca mais terei um bebê banguela sorrindo para mim a cada vez que abro a porta de casa, meu coração para. E tudo o que eu mais quero na vida, nesses momentos, é poder congelar o tempo. Mas aí eu me lembro da droga do mantra: vai passar! E muito mais rápido do que eu gostaria. Contra isso, não há nada que possa ser feito. Por isso prefiro pensar de forma sutilmente diferente: É fase!

Embora possam parecer a mesma coisa, são, em verdade, expressões totalmente diversas. A primeira foca no futuro. A segunda, no presente. E que presente é essa fase! Cansativa sim. Porém proporcionalmente incrível e maravilhosa. Por isso optei por mergulhar nela de cabeça, com todas as suas dores e delícias. Às vezes me queixando de sua intensidade, é fato. Mas, na maioria do tempo, pedindo para que ela possa passar bem devagarinho. Com muita presença. E, claro, muito amor!




Pra você, Augusto. Porque, sem que eu percebesse, já se passaram dez meses... E embora eu sonhe com frequência com uma noite inteira de sono, não me sinto, nem de longe, preparada pra me despedir de você assim: meu bebê.

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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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